Lô Pimentinha

Lô Pimentinha
Devaneios de uma mulher, filha, amiga e advogada piperácea, cujos frutos são bagas picantes. Pensamentos habitualmente utilizados como tempero do cotidiano.

sábado, 17 de outubro de 2015

Não sou iluminada! Ainda...


-Você tem falado com fulana? 
-Não. 
-Por quê? 
-Sei lá... Ela também não me liga. 
-Ahhhh, mas vc não pratica uma religião que ensina que você não deve ser rancorosa? 

Por essas e outras situações, ouço muito essa frase sobre a "minha religião". A primeira coisa que deve ficar bem clara é que a religião não é minha. Eu não criei, não a fundamentei. Apenas a pratico. E continuo praticando por alguns motivos. Um deles é porque sinto que a cada dia aprendo a ser alguém melhor. O segundo é porque me faz bem poder ajudar os outros. Sinto como se eu tivesse alguma missão nesse sentido. 

Muito se engana quem acha que todos os Umbandistas são iluminados, isentos de erros, livres de qualquer sentimento negativo. Basta se atentar a uma coisa: se ainda estamos neste plano e passamos pelas mais diferentes situações, inclusive negativas, é porque temos que aprender. Em alguns casos, aprender MUITO! 

E vou ser bem sincera, o aprendizado não vem com um letreiro luminosos, indicando os caminhos, as questões e os objetivos. Como temos o livre arbítrio, muitas vezes nos distanciamos do objetivo por fazer determinadas escolhas. 

É muito difícil saber o que é que temos que aprender. Diversos fatores nos impedem de ter uma visão clara. O ego, a carência, a mágoa. Esses são os elementos mais comuns que distorcem nossa consciência. 

Não vejo que apenas a Umbanda seja capaz de transformar alguém a ponto de se tornar completamente evoluído. A nossa opção de interpretar tudo como nos é mais fácil ou cômodo impede que vejamos o erro em sua essência. 

Vou além! Não basta saber qual é o erro, qual o caminho correto. Existe a necessidade de ser capaz de mudar, de se transformar, de transmutar. Olha, não é fácil bater com nossas condutas erradas de frente. Não é leve assumir que nossa postura não é a melhor. 

Somos como bebês no início de nossa vida. Já temos o alfabeto ali disponível. Todas as letras já foram criadas, todas as formas já estão disponíveis. Mas ainda não temos o discernimento necessário para poder utilizar todas essas ferramentas que a vida nos proporciona. Você já viu uma criança que chora, fica triste ou se revolta quando não consegue escrever o próprio nome? Esse desespero "pós conhecimento do meu Eu" é real. Apenas saber qual a ferramenta não é suficiente. Saber usá-la é o segredo. 

Saber o que precisamos prender já é difícil. Saber resolver é ainda mais! O caminho é duro, árduo. Requer persistência, perseverança. Mas tenho fé de que se algum dia eu alcançar um degrau que seja a mais, será incrivelmente gratificante. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Meu contato com as plantas de poder

Nada nem ninguém tem condições de saber ou opinar sobre o que você faz ou sente. Tive a prova viva que mesmo com experiência, ninguém é capaz de saber o que pode passar dentro de mim. Não basta me conhecer bem. Não basta estudar e ter conhecimento sobre determinados assuntos. Para saber quem eu sou tem que estar dentro de mim. Para entender milhas atitudes, precisa estar dentro de mim e saber pelo que passei e pelo que ainda vou passar. 

Eu mesma não era capaz de entender. Não era capaz de explicar. Tive medo. Muito medo. A princípio achei que não era merecedora de saber a verdade sobre mim. Achei que não era digna de ter meu momento com o divino. Mero engano. 

 O som me elevava e me fazia dançar. Minha ancestralidade atuava com toda a força através de seus passos firmes e gestos marcantes. Cada vez que meus pés batiam no chão, marcando o toque do tambor, o pó da terra subia, se espalhava pelo ambiente. 

Cansei. Tentei me fechar em meu casulo. Isso mesmo. Agora percebo que era um casulo. Mas fui retirada bruscamente do meu recanto de nascimento pela limpeza física alheia. Aquilo me atordoou. Realmente não queria mais estar ali escutando aquilo. 

Subi. Tentei fugir. Aquele rugido me desesperava. Foi quando percebi que o rugido era meu. Oh céus! Era eu mesma que me incomodava! E quando finalmente entendi isso é que a força passou a atuar de verdade! Eu estava tão leve! Era capaz de flutuar naquela floresta de cores vibrantes! Eu que tanto desejei estar num lugar parecido com o do filme Avatar, me vi interagindo e fazendo parte é um cenário incrível. Absurdamente colorido e brilhante. A cada bola de luz que se aproximava e que eu podia tocar e sentir o calor, a música aumentava em meus ouvidos. 

Boooom. De volta à realidade! Retornei ao meu lugar. De novo no meu casulo. Silêncio total. A limpeza alheia voltou com força total. Me desesperei de novo! Eu ainda não tinha aprendido! Acho que nesse momento gritei: tudo de novo, não! 

Doce ilusão. Se eu não aprender, passarei dezenas e dezenas de vezes pela mesma situação. Antes eu queria estar sozinha, fechada em meu casulo. Mas agora eu me sentia tão sozinha, que era desesperador. Não encontrava ajuda. 

Tentei subir de novo. E lá encontrei uma velha xamã. Seu rosto cheio de rugas me olhava fixamente. Eu estava no controle. Eu estava no controle. Eu não devo me preocupar com o barulho dos outros. Eu estou no controle da minha vida. Era isso que ela estava me ensinando. Seus olhos fundos me enchiam de confiança. Ela era muito austera e confesso que isso me incomodou um pouco, mas sei que ela precisava agir assim. Meu desespero estava me atrapalhando. 

De novo comecei a interagir com o ambiente. As borboletas nasceram. Foi o início da transcendência e transformação, da liberdade para novas etapas. Finalmente viajei para dentro de mim e me transformei. Encontrei a clareza mental para dar o próximo passo. 

O passo seguinte veio através das aranhas. Eu precisava ter independência e coragem para acabar com armadilhas que criei. Precisei romper a teia da ilusão. Ficou então claro o chamado para os novos sonhos, a missão de tecer a minha própria vida. 

Quando aprendi isso foi que conheci o Lobo. Ele apareceu quando eu ainda estava nesse processo de entender e ainda estava com muito medo. Ele teve o dom de me acalmar. Suas fontes de energia equilibraram meus chakras e enfim pude tomar as rédeas do meu ser. Interagi mais uma vez com o lugar. Passei a fazer parte da floresta. A grama envolveu meus pés e me deixei levar. A parte morta de mim estava sendo enterrada ali.

Enfim, descansei. Em paz. 

Aos poucos volto a ouvir o som dos tambores e maracas. Desta vez com minha audição completamente humana, se assim posso dizer. 

Hora de provar mais uma experiência. Ao som do hinário do beija flor, com todo o amor, suavidade e alegria, me limpei pela última vez. Me surpreendi em como a limpeza foi rápida desta vez. Um processo rápido, quase indolor. Alívio. Satisfação. Felicidade. Voltei a me conectar com os ancestrais e dançar com passos firmes. Não sei quanto tempo passei dançando. Mas fiquei exausta. 

Enfim, dormi.